Problemas com a digestão? O mau funcionamento do sistema digestivo pode estar relacionado com a deficiência de enzimas.

Nada como um friozinho para tirar o livro de receitas da gaveta e caprichar em pratos quentes e mais pesados. Os quitutes dessa época do ano são tentadores, mas cuidado: eles podem aumentar as chances de azia e má digestão, principalmente em mulheres. Segundo estudo, 56% delas sofrem com problemas gástricos. Entre os homens, 44% relataram sofrer com azia e má digestão. Pesquisa realizada indica ainda que o problema é mais comum em pessoas de 30 a 39 anos. Pessoas que sofrem de problemas digestivos assumem frequentemente que azia, indigestão, gases, e refluxo são causados pela produção excessiva do ácido estomacal. Essa concepção errônea comum foi fortemente reforçada por profissionais, que habitualmente prescrevem medicamentos que bloqueiam o ácido estomacal mediante o mais leve sinal de disfunção digestiva, sem realizar um diagnóstico correto do problema. Os sintomas da produção excessiva e subprodução de ácido estomacal (ácido clorídrico, HCL) são praticamente idênticos. Portanto, não é sábio chegar a conclusões com relação ao que realmente está ocorrendo no estômago sem avaliar adequadamente.

A principal causa de azia e refluxo é a alergia alimentar: uma manifestação do corpo colocando para fora o que não deveria ter entrado. Se tiver azia com alimentos específicos, não é excesso de ácido clorídrico, mas alergia ou intolerância alimentar. No caso de excesso de ácidos, a azia será constante, e será necessário comer muito ou usar um antiácido para passar.

Muitas pessoas sofrem de falta de ácido clorídrico. Uma forma clínica de se manifestar isso é a sensação dos alimentos não saírem do estômago, principalmente quando se ingere proteínas. Assim, se estiver com a sensação de estômago cheio do almoço, no horário do jantar, talvez seja a falta de ácido clorídrico. Um dos efeitos do estresse e da adrenalina é a redução da produção do ácido clorídrico e paralisia da digestão. Estresse crônico pode levar a hipocloridria (falta de ácido estomacal). Se os alimentos não chegarem acidificados no intestino, não acontecerá a produção adequada de enzimas pancreáticas, e toda a digestão ficará paralisada.

Com o envelhecimento, a secreção de HCL também pode reduzir e resultar em níveis menores de pepsina, o que dificulta ainda mais o processo de digestão. O cloridrato de betaína pode ser usado pelo estômago para aumentar os níveis de pepsina também. A combinação de cloridrato de betaína e pepsina atuam como um excelente tônico estomacal, auxiliando nos processos digestivos e melhorando os sintomas da hipocloridria. A betaína é um composto metabólico derivado do aminoácido glicina e pode ser obtido pelo consumo dos alimentos: frutos do mar, especialmente invertebrados marinhos (1%), gérmen ou farelo de trigo (1%); e espinafre (0,7%). Na forma de cloridrato, a betaína pode estar associada à pepsina, e dessa forma contribuir para o tratamento da hipocloridria, ou seja, auxiliar nos processos digestivos, principalmente de proteínas. A pepsina, uma enzima digestiva, é produzida pelas paredes do estômago, sendo secretada pelo suco gástrico e tem como função digerir proteínas. No entanto, como ela só atua em meio ácido, o estômago também produz o ácido clorídrico (HCL), que converte o pepsinogênio em sua forma ativa, a pepsina, que por sua vez atua na digestão dos alimentos proteicos. A deficiência do HCL contribui para a redução dos níveis de pepsina, consequentemente, os alimentos não são digeridos, e os sintomas de hipocloridria se desenvolvem, como, por exemplo, queimação, inchaço, eructação, sensação de satisfação ou peso estomacal, especialmente após as refeições, náuseas após comer ou tomar suplementos, candidíase de repetição, azia, indigestão, mau hálito, diarreia ou constipação intestinal, gases, unhas fracas, acne, urticárias, presença de alimentos nas fezes, entre outros.

No intestino delgado ocorre a maior parte da digestão e assimilação dos nutrientes. São lançadas as secreções do fígado (bile) e do pâncreas (suco pancreático), que junto com o suco entérico ou intestinal atuam sobre o bolo alimentar. O fígado secreta a bile rico em sais biliares que separam as gorduras em partículas microscópicas e facilitam a ação das enzimas pancreáticas sobre os lipídios. Neste processo digestório, diferentes enzimas atuam sobre diferentes tipos de alimentos. Assim, as enzimas digestivas, tais como amilase (ajuda a digerir os amidos), protease (ajudam a digerir as proteínas) e lipase (ajuda a digerir as gorduras), reduzem os alimentos em componentes menores que são mais facilmente absorvidos no trato digestivo. A deficiência de produção de enzimas digestivas conduz, frequentemente, a reclamações digestivas comuns. Com relação à saúde do trato digestivo, as enzimas proporcionam uma digestão mais eficiente, evitando indigestão, azia, refluxo ácido, gases, inchaço e fadiga depois de comer.

As enzimas absorvidas na forma de suplemento podem ser de fontes animais ou vegetais, porém as enzimas à base de plantas provêm maior suporte por serem mais estáveis e mais resistentes à acidez do estômago. Contudo, se o pâncreas está inflamado, lento ou doente, devem ser combinadas enzimas animais com enzimas vegetais, como parte de uma dieta regular. As enzimas de fonte animal fortalecerão o pâncreas, e se somadas as enzimas à base de plantas, literalmente, quebrarão o alimento consumido. Tradicionalmente, os produtos à base de enzimas comercializados para a saúde digestiva eram formulados para manutenção geral ou para distúrbios específicos, como intolerância à lactose. Hoje, o mercado está definitivamente mais consciente e informado e já existem produtos dirigidos a regimes dietéticos específicos, como as dietas de alta proteína ou nutrição esportiva. Quando se tem flatulência, estufamento ou dor abdominal após a ingestão de laticínios, provavelmente está faltando a enzima lactase. A lactase é uma enzima intestinal responsável pela digestão da lactose (açúcar do leite), facilitando o processo de quebra da lactose em açúcares mais simples e mais facilmente absorvíveis. Geralmente deve-se associar com enzimas proteolíticas, como a bromeleina, ou com enzimas que quebrem os polipeptídios (como a caseína), pois muitas vezes não existe a falta isolada da lactase. Quando se tem uma dificuldade digestiva geral, ou de proteínas, a bromelina é a melhor opção, pois é uma enzima proteolítica encontrada no abacaxi. Além de facilitar a digestão da proteína, tem propriedades anti-inflamatórias, ajudando no processo de recuperação e cicatrização de músculos e tecidos lesionados. A papaína é uma enzima encontrada no látex do mamão papaia, sendo capaz de hidrolisar diferentes tipos de proteínas de origem vegetal ou animal, diminuindo o tempo e facilitando a digestão. Se estas enzimas forem usadas longe das refeições funcionarão como anti-inflamatórios, se forem usados com a refeição funcionarão como enzimas.

Nos últimos anos, nos Estados Unidos, houve um aumento no consumo de combinações de enzimas – de origem vegetal, fúngica e/ou animal -, decorrente de uma procura crescente pelos consumidores, os quais estão cada vez mais conscientes das opções e dos benefícios oferecidos pelos produtos funcionais. A ingestão de um complexo enzimático pode reverter os transtornos digestivos que ocorrem com grande parte do público feminino e também com o envelhecimento normal. Muitos médicos discutem que os problemas digestivos se desenvolvem mais como passar do tempo, porque a produção de enzimas digestivas declinam com o envelhecimento. Tomar suplementos de enzima ajuda a restabelecer uma boa digestão, pois repõem de maneira eficaz os déficits fisiológicos. Podem tratar da flatulência, azia, síndrome do intestino irritável e outras reclamações digestivas.

 

ARTIGO DA QUARTA EDIÇÃO DA REVISTA ESSENTIA , PÁGINA 20