Frutose, o doce vilão

O perigo de se consumir em demasia

O açúcar da cana-de-açúcar, tão popular no Brasil, cujo nome específico é sacarose, quando digerido, se transforma em glicose e frutose. Já está estabelecido que o excesso de glicose não é bom, mas o que alguns estudos estão demonstrando nos últimos anos é que o excesso de frutose é muito pior. A frutose é derivada do açúcar das frutas, da sacarose e do xarope de milho, que contém frutose concentrada. Entretanto, o xarope com alta concentração de frutose e sabor muito doce, bastante utilizado pela indústria alimentícia, pode não ser composto somente de frutose, mas de uma combinação quase em partes iguais de glicose e frutose. A indústria passou a adicionar cada vez mais frutose, por esta ser setenta por cento mais doce que a sacarose, assim pode-se usar uma menor quantidade com a mesma doçura final. Além disso, a frutose é mais estável em soluções líquidas, como os refrigerantes, justificando seu uso disseminado nestes. Outro fator do aumento do consumo de frutose é o hábito disseminado de utilizar o suco de fruta concentrado apenas, ao invés de manter as fibras presentes na fruta – estas reduzem a absorção da frutose. Hoje se sabe que liquidificar uma fruta deixando a totalidade de seus componentes seria bem melhor que centrifugar uma fruta, separando a água e a frutose do restante de sua composição. Se uma pessoa consome a frutose contida em frutas e vegetais, não há problemas, uma vez que estes alimentos contêm vitaminas, minerais e fibras que irão reduzir a absorção de frutose ou, pelo menos, torná-la mais saudável. Antigamente as pessoas consumiam 16 a 20 gramas de frutose por dia, em grande parte pelo consumo de frutas frescas. A ocidentalização da alimentação resultou em aumento significativo na frutose adicionada à dieta, conduzindo ao consumo diário de 85 a 100 gramas por dia.

Frutose pode causar cirrose

A frutose depois de passar pelo intestino é rapidamente levada para o fígado para processamento. Aqui, tem dois destinos: ou é transformada em glicose e utilizada para energia por células hepáticas, em seguida, armazenados no fígado como glicogênio, ou é transformada em gordura. Ao contrário da glicose, frutose só pode ser metabolizada em sua maior parte no fígado (pois só no fígado tem quantidades suficientes da enzima frutoquinase), enquanto a glicose pode ser passada para outros tecidos, como os músculos, e ser utilizada como fonte de energia por eles. Se você tem uma grande quantidade de frutose em sua dieta, ele só tem um lugar para ir: o seu fígado. Se os seus níveis de glicogênio hepático estão cheios, o que acontece todos os momentos do dia, exceto durante o jejum, a frutose é transformada em gordura! Para o restante do corpo a frutose não é um açúcar de rápido metabolismo como a glicose é uma forma de gordura. A partir do momento em que seu fígado não deseja armazenar esta nova gordura, ele as manda para outras partes do seu corpo; lugares que você não deseja, como o seu abdome ou parte inferior das costas. Agora você pode ver porque muita frutose em sua dieta pode ser uma das maiores razões para o aumento da obesidade ou dificuldade em emagrecer.

Quando consumida adequadamente, o organismo consegue dar conta dessa quantidade de gorduras produzidas. No entanto, o consumo excessivo de frutose advindo de produtos industrializados (sucos de caixinha, refrigerantes, geleias, doces, balas, gomas, bolos…) pode ter um papel importante no desenvolvimento de esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) e altos níveis de colesterol e triglicerídios. Nos dias atuais é muito comum encontrar nos pacientes com sobrepeso, obesos ou diabéticos a esteatose hepática instalada. Em alguns casos, esses pacientes podem apresentar uma inflamação nas células do fígado associada à esteatose já presente, causando uma hepatite gordurosa e não alcoólica que, se não controlada, pode evoluir para a cirrose hepática, condição que causa insuficiência das atividades do fígado ou até mesmo sua falência. A prevalência da esteatose hepática vem aumentando no mundo todo. Ocorre de 11% a 46% da população em geral, índice que sobe para 57,5% a 74,5% em obesos e 21% a 78% em diabéticos, sendo mais comum nos homens do que em mulheres. Quando associada à obesidade com diabetes a porcentagem pode ir a 100% de esteatose moderada, 50% de hepatite e 19% de cirrose. A Universidade da Califórnia, EUA, em 2009, divulgou uma revisão na qual mostra diversas publicações que demonstram o excessivo consumo de xarope de milho rico em frutose e seus danos metabólicos que desencadeiam fases iniciais da diabetes e doenças cardíacas. Em um desses estudos, durante 10 semanas, 16 voluntários com dieta controlada com altos níveis de frutose, mostraram formação de células gordurosas em torno do coração, fígado e outros tecidos.

Artigo retirado da 4ª edição da Revista Essentia, páginas 27, 28 e 29. Açúcares – Efeitos não Conhecidos