Como?! A comida pode nos causar inflamação?
Aquela mesma inflamação que um machucado ou um cigarro pode nos levar a desenvolver?
Sim, e é uma triste verdade. Pois a comida tem todo um significado nutricional, físico e psico – sociológico. E hoje temos um acesso fácil aos alimentos, o que nos leva a exagerar e a consumir produtos altamente inflamatórios. Pois aquela comida que levava tempo para ser feita, estragava logo se não fosse consumida num curto intervalo de tempo é cada vez mais rara no nosso dia a dia. Se você se lembrou da comida que seus avós consumiam está indo pelo caminho certo, e cada vez que for pensar no que comer, pense se este prato/comida existia na época deles, se foi feita da mesma forma e com os mesmos ingredientes, pois a chance de escolher algo mais nutritivo e menos inflamatório aumenta.
Meu corpo + comida = inflamação
Relembrando, quem causa inflamação no nosso corpo é o sistema imunológico, na intenção de nos defender e reparar o que foi lesado. E a maior parte das células deste sistema (75%) se encontra no nosso trato gastrointestinal, isso sem citar as bactérias que lá existem e que colaboram com o processo de recolhimento ou expulsão daquela molécula do nosso corpo. O tipo de alimento ativa o tipo de bactéria que ativa o tipo de resposta imunológica (micro ou macroinflamação).
Então, existe uma microinflamação crônica balanceada no nosso trato gastrointestinal. Essa inflamação fisiológica é essencial para a sensibilização e maturação do sistema imunológico, bem como para o desenvolvimento morfológico normal da mucosa intestinal (Fiocchi c et al.Curr Op in Gastro 1994;2:639 – 644) Pois cada alimento que ingerimos é um desafio ao nosso sistema imune, que terá que identificá-lo como nutriente ou agente agressor.
Um alimento mal digerido nos causa inflamação, pois uma molécula grande não é reconhecida como nutriente.
Má digestão = inflamação
É claro que queremos saber de uma vez, quais alimentos temos que evitar e que tipo devemos consumir, mas de que adianta estarmos consumindo os alimentos certos se não estamos transformando (digerindo) a comida em pequenas moléculas para serem reconhecidas como próprias e assim serem absorvidas e não gerarem muita inflamação?
Para evitarmos uma inflamação crônica temos que estar digerindo/processando tudo o que comemos. Ao passar por todo tubo digestivo o alimento sofre a ação de bactérias, sucos, ácidos e enzimas digestivas onde deve se transformar em pequenas partículas e na mucosa intestinal, será absorvido ou não.
O que fazer para ter uma boa digestão?
1. Zelar pela boa saúde bucal para manutenção da nossa mastigação, produção de saliva e suas enzimas e da flora bacteriana residente no local.
2. Não ingerirmos líquidos junto com as refeições para não ocorrer diluição de ácidos e enzimas digestivas. Pode-se ingerir líquidos meia hora antes ou 1 hora após a refeição.
3. Evitarmos o uso constante ou a longo prazo de quaisquer medicamentos, pois além de serem agentes estranhos para nosso corpo (o que acaba causando inflamação), podem vir a interferir em vários estágios da nossa digestão. Por exemplo:
a) Drogas que têm como efeito colateral secar nossa boca.
b) Anti – ácidos (hidróxido de alumínio, bicarbonato, carbonato de cálcio), ou seja, todos aqueles que usamos para azia e má digestão,
c) Ranitidina, cimetidina e omeprazol (todos para estômago que terminam em prazol).
d) Anti-inflamatórios (diclofenaco,nimesulida, ibuprofeno,etc) que além dos rins prejudicam nosso tubo digestivo, tirando o muco que nos protege das substâncias que fazem a digestão.
e) Laxantes halopáticos e naturais como o sene e a cáscara sagrada também irritam nosso intestino.
f) Antibióticos
Tentei colocar os que usamos com mais frequência e sem pensar, para que cada vez que vamos ingerir algum medicamento, tomemos consciência das consequências de tão simples ato, que no nosso corpo pode tomar grandes proporções. A não ser que tenha sido indicado por seu médico, não tome medicamentos por conta, e verifique com ele o tempo de uso e a relação custo-benefício do uso.
4. Nos alimentarmos corretamente, fornecendo todos os nutrientes necessários à formação de todas as substâncias envolvidas no processamento dos alimentos.
5. Preservação de nossa flora bacteriana intestinal, que é responsável (na digestão) pela formação de muco, quebra de fibras não digeridas da dieta, fermentação, quebra de açúcares simples, processamento de gorduras, absorção de vitaminas, regulação do colesterol e triglicerídios e detoxificação do nosso corpo.
6. Controlar o consumo de determinados alimentos.
Existem alimentos que não são digeridos pelo nosso corpo, nem quando estamos com uma boa digestão pois possuem proteínas altamente resistentes à ação das substâncias digestivas. Alguns até inibem a formação dessas substâncias. Estes alimentos dão mais trabalho e acabam gerando uma reação inflamatória maior. Então comê-los com frequência e abundância causa inflamação crônica subclínica que é a causadora de uma série de doenças já citadas em outros artigos.
São eles: leite de vaca, leite de cabra, soja, amendoim, glúten. Existem outros alimentos que podem inflamar, mas são ainda mais dependentes da individualidade química e genética de cada um.
Nós estamos separados do meio externo somente por uma camada de células do nosso intestino chamadas enterócitos. Uma inflamação gerada por algum alimento/substância mal digerida enfraquece a adesividade entre elas, abrindo espaços onde podem entrar macromoléculas (alimentos que não foram processados) que terão que ser destruídas pelo nosso corpo o que causa mais uma inflamação. É a inflamação causando mais inflamação.
Somos únicos
Além de tudo que já foi explicado, temos que levar em conta a susceptibilidade genética de cada um, a forma de como nascemos, se somos amamentados ou não, a forma da qual somos criados e o grau e duração de exposição a determinados tipos de alimento e microorganismos, para então, desenvolvermos uma inflamação do mal ou do bem. Cada pessoa conhece suas próprias limitações e deve compartilhar com seu médico, para que juntos elaborem o melhor plano a ser seguido, e assim vencer a batalha contra a inflamação crônica que nos adoece.
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